12/10/2015

"Quero-os metade infância e outra metade velhice!”


"Não quero adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa."

(Oscar Wilde)



          E para que ter pressa, se os avós podem caminhar ao vento com as crianças e fazer o tempo correr mais lento?
         O aumento na expectativa de vida leva a uma maior vivência no papel de avós. E essa vivência significa uma troca mútua de benefícios, que vai além do vínculo afetivo. Avós amorosos deram aos seres humanos vantagem evolutiva de sobrevivência sobre as demais espécies.  
         A importância dessa relação é comprovada por diversos estudos científicos. Uma análise dos registros da Finlândia revelou que crianças cujos avós ainda eram relativamente jovens quando eles nasceram, apresentavam uma probabilidade de viver mais tempo do que crianças com avós mais idosos.
          Para os avós esta relação também é importante.Estar perto de netos tem efeitos extremamente positivos, tanto emocionais quanto físicos sobre a saúde dos idosos. As pesquisas apontam que aqueles que cuidam de seus netos apresentam uma maior probabilidade de manterem-se fisicamente ativos nos anos seguintes.  Netos que rotineiramente vivem em torno de seus avós idosos irão notar mudanças em sua saúde com mais facilidade. Além disso, o contato com os avós favorece nas crianças o respeito pelos idosos e a aceitação do seu próprio envelhecimento. 
          
        Mas podem os avós “estragarem” os netos? Os avós não colocam de castigo, dificilmente dão broncas e fazem a maioria das vontades dos netos. Mas, por trás de tantos mimos, sempre existem avós conscientes da sua importância para a formação das crianças. Eles influenciam o desenvolvimento emocional, cognitivo e social, além de ajudarem a formar os valores dos netos. Podem ainda minimizar os efeitos negativos da relação entre pais e filhos, especialmente quando os pais são imaturos e negligentes. 
          Educar as crianças é dever dos pais. Então, se impor limites não é função central dos avós, eles podem usufruir da relação com as crianças de forma mais despreocupada e até atender a certos caprichos dos netos. Entretanto, eles devem respeitar a autoridade dos pais.
         Mas não há problema algum se os avós, uma vez ou outra, fazem de tudo para agradar os netos. Isso não prejudica a formação. Satisfazer as vontades dos netos também faz bem aos avós. Eles já foram rígidos na educação dos filhos. Agora, com os netos, se permitem ser mais liberais, o que é muito prazeroso. Por esse motivo, muitos avós são procurados pelos netos para conversas sobre drogas e sexualidade. A capacidade de escuta dos avós ainda ajuda crianças e adolescentes a passarem por períodos difíceis, como o divórcio de seus pais.
          Enquanto os avós ensinam o que sabem da sua experiência de vida e da história da família, os netos os levam a reviver o passado e, assim, elaborá-lo melhor. São também as crianças que colocam os mais velhos a par do universo da informática e de tantas outras novidades. Isso aumenta a vivacidade dos avós. Na companhia dos netos, eles descobrem como ocupar melhor seu tempo e passam a se sentir mais úteis.
         Enfim, "quanto mais entra na velhice, tanto mais se aproxima o homem da infância, a tal ponto que sai deste mundo como as crianças, sem desejar a vida e sem temer a morte."
          Que os idosos possam sempre fazer parte de uma infância feliz. 



"Não quero adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!”

07/10/2015

Convite: Eletroconvulsoterapia na Depressão

        Agradeço imensamente ao convite da Liga de Geriatria e Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) para falar sobre um tema tão importante e polêmico na história da Psiquiatria.
       Venha conhecer mais sobre esse tratamento extremamente eficaz, mas cercado de mitos e preconceitos.
     

       A palestra será ministrada no Simpósio de Geriatria e Gerontologia da FCMMG, no dia 07/10, às 19h no auditório da referida instituição.
       A inscrição pode ser feita  enviando seus dados (nome e telefone) para o e-mail edsonjuniovs@gmail ou no local do simpósio, mediante o pagamento de uma taxa simbólica de R$ 5.00.
      Participe!

01/10/2015

Dia Internacional do Idoso: comemorar é preciso!


             Para cuidar bem, precisamos conhecer as limitações e os direitos dos idosos.
            Acesse a Cartilha do Idoso e se informe melhor:            
                     www.ortoplan.com/uploads/CartilhaIdoso_3aEdicao.pdf

21/09/2015

Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer


"Alzheimer: quanto antes você souber, mais tempo você terá para lembrar."
Se você está apresentando esquecimentos, procure um profissional e faça uma avaliação!



15/06/2015

CONVITE: Simpósio Latino-americano de Prevenção ao Suicídio


          Tenho o prazer de convidá-los a assistir à palestra que irei ministrar no curso sobre prevenção e abordagem ao comportamento suicida no hospital geral, promovido pelas equipes de interconsulta do Mater Dei e do Hospital da Clínicas da UFMG.
          Minha palestra intitula-se: Prevenção do risco de suicídio em idosos no hospital geral - "Não sei se a vida é curta ou longa para nós"...
         Sentir-me-ei honrada com a presença de vocês!
 




Mais informações: http://simposiosuicidio2015.com.br/precongresso.php

20/05/2015

A todas as filhas, no mês das Mães


    

Carta de uma mãe para sua filha 

 




         “Minha querida menina, no dia em que você perceber que estou envelhecendo, eu peço a você para ser paciente, mas acima de tudo, tentar entender pelo o que estarei passando.
          Se quando conversarmos, eu repetir a mesma coisa dezenas de vezes, não me interrompa dizendo: “Você disse a mesma coisa um minuto atrás”. Apenas ouça, por favor. Tente se lembrar de quando você era uma criança e eu lia a mesma história noite após noite até você dormir.
         Quando eu não quiser tomar banho, não se zangue e não me encabule. Lembre de quando você era criança eu tinha que correr atrás de você tentando colocar você no banho.
         Quando você perceber que tenho dificuldades com novas tecnologias, me dê tempo para aprender e não me olhe daquele jeito. Lembre-se, querida, de como eu pacientemente ensinei a você muitas coisas, como comer direito, vestir-se, pentear os cabelos, amarrar os sapatos e lidar com os problemas da vida...
         Se eu ocasionalmente me perder em uma conversa, dê-me tempo para lembrar, e se eu não conseguir, não fique nervosa ou impaciente. Apenas lembre-se, em seu coração, que a coisa mais importante para mim é estar com você.
          Quando eu envelhecer e minhas pernas não me permitirem andar tão rápido quanto antes, me dê sua mão da mesma maneira que eu lhe ofereci a minha em seus primeiros passos.
         Quando este dia chegar, não se sinta triste. Apenas fique comigo e me entenda, enquanto termino minha vida com amor.
        Eu vou adorar e agradecer pelo tempo e alegria que compartilhamos.
         Com um sorriso e o imenso amor que sempre tive por você, eu apenas quero dizer que te amo, minha querida filha.”

         Que possamos cuidar das nossas mães com o mesmo carinho que sempre cuidaram de nós!


19/04/2015

"A morte é um dia que vale a pena viver"


          Linda palestra da Dra. Ana Cláudia Quintana Arantes:
         "A coisa mais ética que a gente pode fazer em cuidado paliativo diante de um paciente no fim da vida é ouvir como a gente gostaria de ser ouvido.
(...)
         Quem for sentar do outro lado tem que entender a importância de que ela [a paciente] não tem tempo pra desperdiçar com quem não dá importância para o ser humano até o último momento que ele vive"...


02/04/2015

Como ela nos ensina! - Dia Mundial de Conscientização do Autismo

         

        "Eu S2 Tia Tammynha"
         
         

          Hoje eu visto Azul por você, A.!
          Você nos ensina a viver cada dia. A exercitar a paciência. A respeitar limites. A valorizar cada pequena conquista. A entender o verdadeiro significado da palavra superação...
         Você nos emociona com sua inocência pueril. Com sua meiguice que transborda. Com seu encantamento pelas coisas mais simples...
         Você nos permite conhecer a verdadeira dimensão do amor incondicional...

30/03/2015

O drama do Alzheimer precoce: “ Para sempre Alice ”?


 



        Existem filmes engraçados, históricos, românticos, inesquecíveis.  “Para sempre Alice” é um filme para ser lembrado: belo, sensitivo, essencial. Mas você não vai querer assistir duas vezes. Delineia nas telas a realidade devastadora do Alzheimer.

        O filme é baseado no livro homônimo da neurocientista e escritora Lisa Genova e tem como personagem principal Alice (interpretada por Julianne Moore), uma mulher de 50 anos, bonita e bem sucedida tanto na profissão quanto na vida pessoal.

        Ironicamente, a inteligente professora da Universidade de Columbia que dedicou sua vida à produção de conhecimento na área de linguística, já não encontra palavras para se expressar. E o seu universo, “De neurônios a pronomes”, vai se tornando cada vez mais nebuloso.

         Ao contrário do que geralmente ocorre, Alice percebe suas dificuldades e procura um profissional para investigar sua perda de memória. E é diagnosticada com Doença de Alzheimer de início precoce.

        A demência no Alzheimer é considerada precoce quando ocorre em pessoas com menos de 65 anos. Esses casos são raros e correspondem a 10% do total. Observa-se um acometimento familiar em sucessivas gerações diretamente relacionado a um padrão de transmissão autossômico dominante, ou seja, se um dos genitores for portador do alelo da doença, os filhos têm uma chance de 50% de desenvolver o transtorno. Verificam-se mutações nos cromossomos 1, 14 e 21 e é frequente nos indivíduos com Síndrome de Down.
 
      Caracteriza-se por um declínio rápido, com marcantes e múltiplos transtornos das funções cognitivas. Afasia (perda da fala), agrafia (perda da destreza da escrita), e apraxia (perda da capacidade de efetuar tarefas que requerem padrões de evocação ou sequências de movimentos) ocorrem cedo no curso da demência. Mioclonias (espasmos musculares) também são comuns.
        O devastador entendimento de que aquilo que a define é o que lhe será bruscamente tirado, marca o início da complexa trajetória de Alice. O rápido progresso da doença e suas consequências para a família é retratada de forma sensível e direta.

        Sua vida vai se desconstruindo - o marido se esquiva, a filha mais velha se vê diante do seu futuro após um teste genético e reconstruindo- a filha mais nova se reaproxima na dimensão do cuidado.

       "Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que eu vivo? Vivo para cada dia. Vivo o presente... Esquecerei o hoje, mas isso não significa que o hoje não tem importância." 

        Suas lembranças se tornam cada vez mais distantes. Seu olhar se perde para dentro de si.

        Faltam-lhe as palavras, mas não o significado da sua vida: AMOR.

        As lembranças que o Alzheimer apaga na memória, não as apaga no coração.
 
        E Alice será assim, para sempre Alice...

23/03/2015

Abram as cortinas!


 

        Apagam-se as luzes. Abrem-se as cortinas:
        Um cenário shakespeariano. Um grupo de amigos septuagenários em um clube inglês. Um despreocupado jogo de bingo enquanto aguardam a entrada triunfal de Elvira para comemorar seu aniversário de 84 anos.
        A octagenária, obstinadamente vivaz e sem amarras, traduz a essência do bem-viver na terceira idade, ou melhor, melhor idade! Pois, como sabiamente assegura, “a gente aprende a viver saboreando a vida”.
       Mas a maturidade é, deveras, uma construção. Atingir a maturidade exige tempo, vivências, reflexões. Como um processo terapêutico, envolve amores e dissabores, lutas, conquistas, desilusões, aprendizagem, retificações, compartilhamento.
       Em, “ A última sessão”, tudo se inicia leve e divertido como a infância. Alegre e desapressado como a velhice.
       E não mais que de repente, uma Tempestade de verdades, daquelas mais reprimidas, gotejam lancinantes sobre a mesa. ( Trovões! )
       Contemplação. Os sentimentos são exteriorizados, embora sem reconhecimento de suas contradições. 

       E entre mútuas acusações, as expressões simbólicas fluem, es-pe-cu-la-res. É aberta a caixa de Pandora!
       Cada personagem é revelado nas profundezas, nos seus mais íntimos conflitos. Para alguns, a experiência está em profundo desacordo com o seu próprio conceito do eu. Abrir-se para a própria existência, em enfrentamento do seu lado obscuro, desconhecido, é muitas vezes assustador.  PSICODRAMA.
       A tensão aumenta no ambiente e a tomada de decisão se torna premente. ( Relâmpagos e trovões!!)
       Há cada vez mais o desejo de se vivenciar o seu verdadeiro eu. ( PSICO – DRAMA). Mudar paradigmas. Romper os estigmas. Libertar-se de suas próprias prisões. Para que a maturidade seja vivida plenamente. Em paz consigo e com o mundo. “Sem nos prendermos ao passado, nem nos angustiarmos com o futuro.”

       Cessa a tempestade. ( Ariel canta )
       O surpreendente final, a mim não me cabe revelar.
       Mas deixo aos meus queridos pacientes e a todos os idosos, uma sincera recomendação:
            - Acendam as luzes!Abram as cortinas, para a vida!

      ( E não deixem de assistir à peça! Rsrs)


 Reflexões acerca da peça intitulada “A última sessão”, escrita e dirigida por @OdilonWagner  e interpretada por um elenco fantástico que esteve em cartaz recentemente em #BeloHorizonte)

 

14/03/2015

Lamentações por Severo - enganos e desenganos


Lamento por Severo, personagem da novela “Império”. Não apenas pelo personagem em si, mas pela desinformação.  Por um diagnóstico apressado e sem fundamentos. Por uma evolução rápida e atípica. Sim, estou falando da Doença de Alzheimer. Convido-o pois, leitor, a mergulhar agora em um  “império” de desenganos:
            A Demência na Doença de Alzheimer (DA) é um quadro de evolução lenta e progressiva. Não se inicia de maneira súbita como no caso desse personagem. Caracteriza-se por uma variedade de sintomas cognitivos e comportamentais. A instalação dos primeiros sintomas é insidiosa, o que dificulta estabelecer o momento exato do início da doença. O curso é lentamente progressivo, embora períodos de relativa estabilidade ou ciclos em que há rápida deterioração possam também ocorrer. O déficit de memória é o principal e, usualmente, o primeiro sintoma da DA, com comprometimento da memória episódica para fatos recentes e preservação da memória para fatos mais remotos. Dessa forma, o paciente tem dificuldade em armazenar e  evocar informações novas ou fatos ocorridos há poucos minutos. 
            Em estágios iniciais da doença, o paciente esquece onde guardou objetos pessoais, repete a mesma tarefa inúmeras vezes, esquece nomes de pessoas que acaba de conhecer. Outro domínio cognitivo afetado já nas fases iniciais é o funcionamento executivo. O paciente demonstra perda da capacidade de abstração, dificuldades de julgamento, de resolução de problemas e de tomada de decisões. Tais déficits acarretam prejuízo funcional em atividades instrumentais da vida diária, como planejar reuniões e viagens ou gerenciar as próprias finanças. A linguagem se encontra relativamente preservada nas fases iniciais, exceção feita aos casos de início precoce (DA pré-senil) em que alterações de linguagem são mais freqüentes. Os sintomas lingüísticos iniciais mais comuns são dificuldade para encontrar palavras (anomia) e redução da fluência verbal.
            As funções visuoespaciais também são comprometidas na DA, resultando em desorientação espacial, dificuldade para dirigir e para localizar objetos. Dificuldades para fazer cálculos também são comuns e precoces, afetando a capacidade para lidar com dinheiro.  Apraxia e agnosia costumam ocorrer nos estágios intermediário e avançado da doença.
          Sintomas neuropsiquiátricos também fazem parte do quadro clínico da DA e representam fonte de sobrecarga intensa para familiares e para cuidadores.
            A partir do estágio intermediário, a realização de atividades básicas da vida diária, como fazer  higiene pessoal e vestir-se, passa a ser afetada, com necessidade de supervisão e de cuidados mais constantes. 
        Em estágios avançados da doença, ocorre incapacidade de reconhecer membros da família, incontinência fecal e urinária, dificuldade para alimentar-se e de locomoção.
           O diagnóstico depende de exame clínico adequado e da investigação por exames laboratoriais e de neuroimagem. Embora o diagnóstico ainda seja de exclusão, a acurácia é elevada com base em critérios estabelecidos.
           A morte geralmente ocorre em decorrência de complicações clínicas, em período médio de nove anos, mas pode haver amplas variações de um caso para outro.
           O tratamento adequado pode lentificar a evolução da demência, mas não há cura para a doença.
           A DA é a principal causa de demência na população idosa, responsável por mais de 50% dos casos. Daí a importância em se falar do assunto, mas de forma séria e responsável. Sem desfoques.
           
          Ah, Severo! Fostes severamente “punido” pelas atitudes do teu personagem. Mas doença não deveria ser vista como punição. E não deveria ser apresentada de forma tão arbitrária. Toda informação é válida, se coerente com a realidade. 
         Respeito a licença poética, mas a minha crítica é SEVERA!

09/03/2015

Carinho é sempre bem-vindo!






             Encantada com a delicadeza e o carinho deste presente que recebi de uma senhora do meu ambulatório de Psicogeriatria! Feito por ela mesma, que montou e pintou toda a estrutura de madeira e colocou diversas pedrinhas. Cada uma dessas pedrinhas tem um significado único e é de um lugar diferente que ela visitou.
           Um "presépio" de sua própria vida...

04/03/2015

Porque amar é preciso.



O verdadeiro amor aquece o coração. Adoça a vida. E revivesce as boas memórias, mesmo que elas pareçam tão distantes...
Nunca se esqueça de uma boa lembrança...

23/02/2015

Quantos carnavais tens sobre a corcunda? Quanta meninice tens em tua velhice?

     


      (...)

       E não vemos, em Homero, o velho Nestor falar mais doce do que o mel, enquanto o feroz Aquiles prorrompe em excessos de furor? O mesmo poeta não nos pinta alguns velhos sentados nos muros e fazendo lépidos discursos? Afirmo, pois, de acordo com esse raciocínio, que a felicidade da velhice supera a da meninice.  Não se pode negar que a infância é muito feliz; mas, nessa idade, não se tem o prazer de tagarelar, de resmungar por trás de todos, como fazem os velhos, prazer que constitui o principal condimento da vida.
       Outra prova do meu confronto é a recíproca inclinação que se nota nos velhos e nos meninos, e o instinto que os leva a manterem entre si boas relações. Assim é que se verifica que todo semelhante ama o seu semelhante.
      De fato, essas duas idades têm uma grande relação entre si, e não vejo nelas outra diferença senão as rugas da velhice e a porção de carnavais que os primeiros têm sobre a corcunda. Quanto ao mais, a brancura dos cabelos, a falta dos dentes, o abandono do corpo, o balbucio, a garrulice, as asneiras, a falta de memória, a irreflexão, numa palavra, tudo coincide nas duas idades.
      Enfim, quanto mais entra na velhice, tanto mais se aproxima o homem da infância, a tal ponto que sai deste mundo como as crianças, sem desejar a vida e sem temer a morte.

(Elogio da loucura, Erasmo de Rotterdam)