30/03/2015

O drama do Alzheimer precoce: “ Para sempre Alice ”?


 



        Existem filmes engraçados, históricos, românticos, inesquecíveis.  “Para sempre Alice” é um filme para ser lembrado: belo, sensitivo, essencial. Mas você não vai querer assistir duas vezes. Delineia nas telas a realidade devastadora do Alzheimer.

        O filme é baseado no livro homônimo da neurocientista e escritora Lisa Genova e tem como personagem principal Alice (interpretada por Julianne Moore), uma mulher de 50 anos, bonita e bem sucedida tanto na profissão quanto na vida pessoal.

        Ironicamente, a inteligente professora da Universidade de Columbia que dedicou sua vida à produção de conhecimento na área de linguística, já não encontra palavras para se expressar. E o seu universo, “De neurônios a pronomes”, vai se tornando cada vez mais nebuloso.

         Ao contrário do que geralmente ocorre, Alice percebe suas dificuldades e procura um profissional para investigar sua perda de memória. E é diagnosticada com Doença de Alzheimer de início precoce.

        A demência no Alzheimer é considerada precoce quando ocorre em pessoas com menos de 65 anos. Esses casos são raros e correspondem a 10% do total. Observa-se um acometimento familiar em sucessivas gerações diretamente relacionado a um padrão de transmissão autossômico dominante, ou seja, se um dos genitores for portador do alelo da doença, os filhos têm uma chance de 50% de desenvolver o transtorno. Verificam-se mutações nos cromossomos 1, 14 e 21 e é frequente nos indivíduos com Síndrome de Down.
 
      Caracteriza-se por um declínio rápido, com marcantes e múltiplos transtornos das funções cognitivas. Afasia (perda da fala), agrafia (perda da destreza da escrita), e apraxia (perda da capacidade de efetuar tarefas que requerem padrões de evocação ou sequências de movimentos) ocorrem cedo no curso da demência. Mioclonias (espasmos musculares) também são comuns.
        O devastador entendimento de que aquilo que a define é o que lhe será bruscamente tirado, marca o início da complexa trajetória de Alice. O rápido progresso da doença e suas consequências para a família é retratada de forma sensível e direta.

        Sua vida vai se desconstruindo - o marido se esquiva, a filha mais velha se vê diante do seu futuro após um teste genético e reconstruindo- a filha mais nova se reaproxima na dimensão do cuidado.

       "Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que eu vivo? Vivo para cada dia. Vivo o presente... Esquecerei o hoje, mas isso não significa que o hoje não tem importância." 

        Suas lembranças se tornam cada vez mais distantes. Seu olhar se perde para dentro de si.

        Faltam-lhe as palavras, mas não o significado da sua vida: AMOR.

        As lembranças que o Alzheimer apaga na memória, não as apaga no coração.
 
        E Alice será assim, para sempre Alice...

23/03/2015

Abram as cortinas!


 

        Apagam-se as luzes. Abrem-se as cortinas:
        Um cenário shakespeariano. Um grupo de amigos septuagenários em um clube inglês. Um despreocupado jogo de bingo enquanto aguardam a entrada triunfal de Elvira para comemorar seu aniversário de 84 anos.
        A octagenária, obstinadamente vivaz e sem amarras, traduz a essência do bem-viver na terceira idade, ou melhor, melhor idade! Pois, como sabiamente assegura, “a gente aprende a viver saboreando a vida”.
       Mas a maturidade é, deveras, uma construção. Atingir a maturidade exige tempo, vivências, reflexões. Como um processo terapêutico, envolve amores e dissabores, lutas, conquistas, desilusões, aprendizagem, retificações, compartilhamento.
       Em, “ A última sessão”, tudo se inicia leve e divertido como a infância. Alegre e desapressado como a velhice.
       E não mais que de repente, uma Tempestade de verdades, daquelas mais reprimidas, gotejam lancinantes sobre a mesa. ( Trovões! )
       Contemplação. Os sentimentos são exteriorizados, embora sem reconhecimento de suas contradições. 

       E entre mútuas acusações, as expressões simbólicas fluem, es-pe-cu-la-res. É aberta a caixa de Pandora!
       Cada personagem é revelado nas profundezas, nos seus mais íntimos conflitos. Para alguns, a experiência está em profundo desacordo com o seu próprio conceito do eu. Abrir-se para a própria existência, em enfrentamento do seu lado obscuro, desconhecido, é muitas vezes assustador.  PSICODRAMA.
       A tensão aumenta no ambiente e a tomada de decisão se torna premente. ( Relâmpagos e trovões!!)
       Há cada vez mais o desejo de se vivenciar o seu verdadeiro eu. ( PSICO – DRAMA). Mudar paradigmas. Romper os estigmas. Libertar-se de suas próprias prisões. Para que a maturidade seja vivida plenamente. Em paz consigo e com o mundo. “Sem nos prendermos ao passado, nem nos angustiarmos com o futuro.”

       Cessa a tempestade. ( Ariel canta )
       O surpreendente final, a mim não me cabe revelar.
       Mas deixo aos meus queridos pacientes e a todos os idosos, uma sincera recomendação:
            - Acendam as luzes!Abram as cortinas, para a vida!

      ( E não deixem de assistir à peça! Rsrs)


 Reflexões acerca da peça intitulada “A última sessão”, escrita e dirigida por @OdilonWagner  e interpretada por um elenco fantástico que esteve em cartaz recentemente em #BeloHorizonte)

 

14/03/2015

Lamentações por Severo - enganos e desenganos


Lamento por Severo, personagem da novela “Império”. Não apenas pelo personagem em si, mas pela desinformação.  Por um diagnóstico apressado e sem fundamentos. Por uma evolução rápida e atípica. Sim, estou falando da Doença de Alzheimer. Convido-o pois, leitor, a mergulhar agora em um  “império” de desenganos:
            A Demência na Doença de Alzheimer (DA) é um quadro de evolução lenta e progressiva. Não se inicia de maneira súbita como no caso desse personagem. Caracteriza-se por uma variedade de sintomas cognitivos e comportamentais. A instalação dos primeiros sintomas é insidiosa, o que dificulta estabelecer o momento exato do início da doença. O curso é lentamente progressivo, embora períodos de relativa estabilidade ou ciclos em que há rápida deterioração possam também ocorrer. O déficit de memória é o principal e, usualmente, o primeiro sintoma da DA, com comprometimento da memória episódica para fatos recentes e preservação da memória para fatos mais remotos. Dessa forma, o paciente tem dificuldade em armazenar e  evocar informações novas ou fatos ocorridos há poucos minutos. 
            Em estágios iniciais da doença, o paciente esquece onde guardou objetos pessoais, repete a mesma tarefa inúmeras vezes, esquece nomes de pessoas que acaba de conhecer. Outro domínio cognitivo afetado já nas fases iniciais é o funcionamento executivo. O paciente demonstra perda da capacidade de abstração, dificuldades de julgamento, de resolução de problemas e de tomada de decisões. Tais déficits acarretam prejuízo funcional em atividades instrumentais da vida diária, como planejar reuniões e viagens ou gerenciar as próprias finanças. A linguagem se encontra relativamente preservada nas fases iniciais, exceção feita aos casos de início precoce (DA pré-senil) em que alterações de linguagem são mais freqüentes. Os sintomas lingüísticos iniciais mais comuns são dificuldade para encontrar palavras (anomia) e redução da fluência verbal.
            As funções visuoespaciais também são comprometidas na DA, resultando em desorientação espacial, dificuldade para dirigir e para localizar objetos. Dificuldades para fazer cálculos também são comuns e precoces, afetando a capacidade para lidar com dinheiro.  Apraxia e agnosia costumam ocorrer nos estágios intermediário e avançado da doença.
          Sintomas neuropsiquiátricos também fazem parte do quadro clínico da DA e representam fonte de sobrecarga intensa para familiares e para cuidadores.
            A partir do estágio intermediário, a realização de atividades básicas da vida diária, como fazer  higiene pessoal e vestir-se, passa a ser afetada, com necessidade de supervisão e de cuidados mais constantes. 
        Em estágios avançados da doença, ocorre incapacidade de reconhecer membros da família, incontinência fecal e urinária, dificuldade para alimentar-se e de locomoção.
           O diagnóstico depende de exame clínico adequado e da investigação por exames laboratoriais e de neuroimagem. Embora o diagnóstico ainda seja de exclusão, a acurácia é elevada com base em critérios estabelecidos.
           A morte geralmente ocorre em decorrência de complicações clínicas, em período médio de nove anos, mas pode haver amplas variações de um caso para outro.
           O tratamento adequado pode lentificar a evolução da demência, mas não há cura para a doença.
           A DA é a principal causa de demência na população idosa, responsável por mais de 50% dos casos. Daí a importância em se falar do assunto, mas de forma séria e responsável. Sem desfoques.
           
          Ah, Severo! Fostes severamente “punido” pelas atitudes do teu personagem. Mas doença não deveria ser vista como punição. E não deveria ser apresentada de forma tão arbitrária. Toda informação é válida, se coerente com a realidade. 
         Respeito a licença poética, mas a minha crítica é SEVERA!

09/03/2015

Carinho é sempre bem-vindo!






             Encantada com a delicadeza e o carinho deste presente que recebi de uma senhora do meu ambulatório de Psicogeriatria! Feito por ela mesma, que montou e pintou toda a estrutura de madeira e colocou diversas pedrinhas. Cada uma dessas pedrinhas tem um significado único e é de um lugar diferente que ela visitou.
           Um "presépio" de sua própria vida...

04/03/2015

Porque amar é preciso.



O verdadeiro amor aquece o coração. Adoça a vida. E revivesce as boas memórias, mesmo que elas pareçam tão distantes...
Nunca se esqueça de uma boa lembrança...